quinta-feira, 11 de julho de 2013

Querida Nonô #7

Ontem foi um dia de viragem. O papá já foi trabalhar, e eu fiquei por casa, o sítio que tem sido tão nosso nos últimos meses... Tudo me faz lembrar de ti. Tudo. Já antes fazia, mas ficava com as borboletinhas na barriga (como aquelas que nos envias agora para dizer "Olá"), porque achava que dentro de alguns meses iria ter o teu choro pela casa, fraldinhas para mudar, banhocas para te dar... Tudo o que me deixava o coração nas mãos, toda a preocupação dos problemas da gravidez iria brevemente ser substituída pelo amor incondicional de mãe, a abraçar-te e dar-te mimo a todo o instante.

Sem ti, tudo me continua a fazer lembrar de ti. Mas agora, em vez das borboletas de expectativa, vem o peso de já conhecer o desfecho...

Sou mãe, sim, mas isto de ser mãe de colo vazio é muito estranho... Olho à minha volta, e há tantas crianças a correr por aí, tantos bebés a passear com os pais nos seus carrinhos... E fico feliz por eles. Mas gostava de ficar feliz também por ter tido direito ao mesmo. Em vez disso, sinto um aperto muito grande no coração, e por momentos sinto-me injustiçada. Caramba, não era suposto ser a coisa mais natural do mundo, conceber-se uma criança, usufruir com amor dos 9 meses de gravidez, e depois trazer um bebé connosco, para o fazer feliz o resto das nossas vidas? Tenho muitos momentos em que não percebo porque algo tão simples (sem deixar de ser um milagre) foi tão complicado para nós, e o "prémio" final nos teve que ser negado... 

São momentos complicados, esses... É que sabes como a mamã é um pouco claustrofóbica. E percebi que a "claustrofobia do tempo" dói muito mais do que a do espaço. Estamos aqui presos sem ti, nesta linha temporal da nossa vida. Não te ter comigo é a coisa mais dolorosa que já me aconteceu. E a mais definitiva. Talvez por isso doa tanto... Vivi demasiado tempo com toda a esperança do mundo de que tudo ia correr bem. Acreditei sempre. E agora sinto-me trancada nesta versão da minha vida que não era a que eu escolheria para mim.

Mas confio em ti, querida Nonô. E tenho a certeza que me tens ajudado muito neste processo de luto. Não poderia estar tão "bem" se não fosses tu. Obrigada, querida. E sei que estás bem. [Na maioria das vezes] isso é o suficiente para mim.

2 comentários:

  1. Aiii...minha linda...escreves tão bem...
    E o sofrimento tem destas coisas, pega-se. Através das tuas palavras sofro contigo, convosco...tu sabes...
    Mas também tenho esperança contigo, que a luz volte, porque a tua Nonô está contigo sempre e vai libertar-te dessa dor. Sei que sim! Deixa-me pegar-te agora o meu pensamento positivo! Um xi<3

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    1. Muito obrigada, querida! Ela está connosco, sim. Tenho a certeza! Xi <3 de volta!

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